Blog •  02/06/2018

Transição entre período de água/seca: como proceder?

Autor:  Bruno Carneiro e Pedreira, engenheiro agrônomo, Pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril
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Transição entre período de água/seca: como proceder?

Para garantir a manutenção dos índices produtivos da fazenda, o planejamento alimentar nesta época é imprescindível.

Os sistemas de produção pecuária no Brasil são basicamente pautados pelo uso de pastagens como a principal fonte de alimento. Nesse cenário, três eficiências precisam ser consideradas: crescimento das forrageiras, consumo e conversão pelos animais. Além disso, no Brasil Central, ao longo do ano existem duas grandes épocas: águas e seca. A estação das águas é caracterizada por muita chuva, radiação solar e dias longos, fatores que contribuem para a produção abundante de forragem (70-80% da produção anual). Nos meses de seca, quando falta chuva e as temperaturas são menores, a produção diminui e as pastagens acumulam pouca forragem.

A época de transição águas-seca é de suma importância para garantir a manutenção dos índices produtivos. Por isso, um ponto a ser contemplado é o planejamento alimentar do rebanho. O ajuste da oferta de forragem nessa época do ano pode ser feito reduzindo a taxa de lotação (venda de animais), armazenando alimento (suplementação) ou combinando as estratégias.

A opção de reduzir o número de bovinos, programando venda de bezerros, em sistemas de cria, ou venda de boi gordo, na recria e terminação, apresenta vulnerabilidade comercial, já que os preços tendem a cair no período de transição entre safra e entressafra.

O armazenamento de alimento é mais dependente de decisões do produtor. É necessário entender a demanda de forragem para o ano todo e planejar a compensação da ausência de forragem na época seca. Para isso, existem algumas estratégias:

  1. Ao final da estação chuvosa, realiza a venda, não se faz reposição e mantem alguns pastos isolados. Assim, a forrageira continua em crescimento e pode ser utilizada durante a estação seca, na forma de “feno em pé”. Atenção. Nem toda gramínea é recomendada para esse diferimento. A utilização das braquiárias é uma opção, pois mantêm boa quantidade de folhas e perdem valor nutritivo de maneira menos acentuada.
  2. Se não há mais tempo para o diferimento ou a população de animais na fazenda não pode ser reduzida é necessário adquirir alimento volumoso e concentrado. Nesse caso, o confinamento pode ser uma opção, principalmente em regiões produtoras de grãos. Lembre-se, pense nisso como uma estratégia do negócio. Haverá anos em que essa estratégia apenas empata financeiramente ou resulta em pequeno prejuízo. Mas, enquanto isso, os pastos estão com a lotação que suportam e os animais terão oferta de forragem suficiente para ganhar peso? Reflita, faça conta e tome a decisão pensando nos custos, na longevidade dos pastos, no seu negócio!
  3. Uma outra opção é planejar a alimentação do rebanho antes, pensar na seca do ano seguinte e começar o processo no início da estação chuvosa. Intensificar a utilização de alguns pastos, aumentar a taxa de lotação em parte da propriedade. Isso pode ser feito com manejo sob lotação rotativa, adubação, suplementação, etc. Com isso, haverá pequena área sem pastejo na propriedade gerando capim excedente durante toda a época das águas. Nessa área, em crescimento, sem animais pastejando, é possível ensilar forrageiras e armazená-las para suprir a ausência de volumoso na época seca. Essa estratégia permite trabalhar com altas taxas de lotação e alta eficiência de utilização da forrageira, melhorando a produtividade média da propriedade. Mas isso gera aumento de custo. Os investimentos, especialmente em maquinário e estrutura, são maiores. A locação de colhedoras automotrizes de forragem já é uma realidade em algumas regiões.
  4. Na escalada das possibilidades, existem os sistemas mais complexos como os de lavoura-pecuária, os quais melhoraram a alimentação do rebanho e reduzem o problema de escassez durante a estação seca. Com as duas atividades na propriedade é possível ter produção de forragem após a safra (soja, milho, etc.), procedendo o plantio de forrageiras após a colheita ou em consórcio com a segunda safra (milho + braquiária). Essa técnica permite produção de capim no final da estação chuvosa, que será utilizado para pastejo durante a estação seca. Já existem algumas propriedades, inclusive, invertendo a estação de monta para que os bezerros nasçam na seca, o que garante excelente condição sanitária-reprodutiva e grande quantidade de forragem pós-lavoura.
  5. Com a união da lavoura com a pecuária é possível dar dois destinos à produção de grãos na propriedade: venda ou armazenamento para posterior suplementação e confinamento (em estábulo ou em pastagens), agregando valor ao negócio agropecuário. Também é possível mudar o destino de uma lavoura de milho. Se houver a sinalização de redução de preço do grão, por exemplo, é possível fazer silagem e aumentar o número de animais suplementados. Quem sabe até comprar animais magros e fazer uma terminação rápida.

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Inúmeras são as possibilidades e combinações de técnicas, as oportunidades são peculiares em cada região. O importante não é fazer a pergunta diante do problema, mas ter a resposta um ano antes. O planejamento alimentar anual é vital para aumentar a lucratividade da pecuária. Esteja um passo à frente, faça com que a atividade pecuária seja empresarial, com gestão, planejamento anual e perspectivas de riscos e oportunidades para futuro do seu negócio.