Além dos benefícios para o meio ambiente e a sustentabilidade do planeta, a integração aumenta as possibilidades de rentabilidade para o produtor
A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) tem sido um tema importante no contexto da sustentabilidade. Segundo o engenheiro agrônomo Maurel Behling, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, a ILPF é uma proposta de mudança de uso da terra com foco na produção sustentável por meio da integração de atividades agrícolas, pecuárias e florestais de forma temporal ou especial. Como estratégia de produção, ela pode ser adotada em qualquer bioma, independentemente do tamanho ou condição da propriedade rural. “O objetivo é intensificar o uso do solo para atingir patamares cada vez mais elevados de qualidade do produto, qualidade ambiental e competitividade, sem a necessidade de desmatar novas áreas de florestas nativas”, esclarece.
No contexto econômico, dentre as vantagens da implementação da ILPF está o potencial de rentabilidade quando comparada aos sistemas de produção de monoculturas. O economista Júlio César dos Reis, pesquisador da Embrapa Cerrados, observa que há uma minimização de riscos associada à diversificação de receitas. Estudos demonstram que os sistemas ILPF têm uma capacidade maior para amortecer a variação dos preços das commodities, garantindo mais estabilidade da receita ao longo do tempo. “Como exemplo, em estudo realizado em URTs localizadas em Mato Grosso, foi observado que uma redução de 15% no preço da soja implicaria em uma queda de 39,6% no lucro bruto de uma fazenda típica de monocultura. Contudo, essa mesma redução de preço da soja levaria a uma diminuição de apenas 15,2 % em uma fazenda com sistema ILP”, afirma.
Júlio aponta que o aproveitamento das oscilações de preço é uma oportunidade para auferir ganhos acima da média, especialmente na pecuária, já que a integração permite maior oferta de alimentos em períodos de estiagem, quando o preço dos animais tende a diminuir. Sem contar que a intensificação das atividades contribui para redução dos custos unitários de produção com o aumento da escala produtiva. “Se, em termos absolutos, os custos dos sistemas ILPF tendem a ser maiores, em virtude da maior diversidade de atividades produtivas, a relação custo/volume produzido nesses sistemas, em função das altas produtividades, tende a ser menor, o que possibilita maior rentabilidade ao produtor”, explica.
A adoção do sistema ILPF exige planejamento, elevado nível de organização e capacidade operacional para a realização de atividades simultâneas. O economista Júlio ressalta que os sistemas de integração exigem um maior acompanhamento do mercado, seja para a compra de insumos ou comercialização dos produtos, por isso a capacitação do produtor é fundamental. A qualificação da mão de obra também é considerada um aspecto-chave, já que os funcionários precisarão ter conhecimento em diversas funções. “Conhecer as características do mercado e o perfil da demanda são elementos centrais para a decisão de investimento na implantação de sistemas ILPF”, pontua.
O engenheiro agrônomo Maurel orienta que a implantação da ILPF na propriedade não pode ser realizada de um ano agrícola para o outro, mesmo que existam recursos financeiros e humanos. “É imprescindível que a integração dos sistemas dentro da propriedade rural seja feita aos poucos, paulatinamente ao longo dos anos. A recomendação na implantação é não ultrapassar 20% da área apta num mesmo ano agrícola”, aconselha.
Para implementar o componente floresta, Maurel afirma que o primeiro passo é a escolha da espécie florestal de acordo com questões técnicas como região de cultivo, condições e restrições de mercado, tipo de produto, volume da demanda e custos com transporte. A quantidade de produtos madeireiros e não madeireiros que o mercado pode absorver irá determinar o tipo de plantio das árvores que será adotado - linhas simples ou em renques de linhas duplas, triplas ou múltiplas. Após definir o número de linhas por faixa, com base no produto final, o produtor irá definir a distância entre os renques de acordo com a atividade principal ou com maior rentabilidade econômica a ser executada entre essas faixas. “Na prática, recomenda-se que a distância entre os renques não seja inferior a 20 m, para retardar o sombreamento crítico (excessivo), bem como a competição por água e nutrientes para a cultura intercalar (grãos e ou pastagem)”, acrescenta.
Modalidades de integraçãoO engenheiro agrônomo Maurel Behling explica que existem quatro modelos de integração da ILPF. - Lavoura e pecuária (ILP ou agropastoril). - Pecuária e floresta (IPF ou silvipastoril). - Lavoura e floresta (ILF ou silviagrícola). - Lavoura, pecuária e floresta (ILPF ou agrossilvipastoril). Principais benefícios da integração de sistemasMaurel destaca as principais vantagens que o produtor terá ao adotar a integração de sistemas em sua propriedade: - Otimização dos processos e fatores de produção. - Uso mais proveitoso da terra. - Geração de mais empregos no campo. - Aumento da renda líquida e maior estabilidade econômica com a diversificação da produção. - Redução da pressão para abertura de novas áreas para a agricultura. - Contribuição para recuperação de áreas de pastagens degradadas e elevação da taxa de lotação, com aumento da produtividade. - Maior eficiência na conservação da água e do solo, com melhor ciclagem de nutrientes no solo em áreas de produção de grãos. - Favorecimento da manutenção da biodiversidade, com elevação da atividade biológica no solo, o que contribui para aumentar os estoques de carbono e mitigar os gases de efeito estufa (GEE). - Bem-estar e conforto animal graças ao sombreamento proporcionado pelas árvores, com efeito significativo sobre o desempenho produtivo e reprodutivo no gado de corte e de leite. - As árvores ainda proporcionam beleza ao ambiente, tornando a propriedade um local de contemplação. |