Blog •  01/08/2023

Após dar sinais positivos na virada do semestre, julho foi marcado por queda na arroba do boi gordo

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O cenário não foi inspirador para os pecuaristas e para as indústrias frigoríficas.

 

Estamos em uma fase de baixa do ciclo pecuário, caracterizada pela maior oferta de fêmeas destinadas ao abate. Em junho, a oferta de gado diminuiu após a desova dos bovinos, devido à entressafra do capim, bem como às escalas de abate. Consequentemente, os preços da arroba tiveram leve recuperação, trazendo alento ao produtor.

Julho, porém, tem sido marcado por um cenário diferente. As escalas de abates estão preenchidas até o início de agosto em diversas praças pecuárias e, com isso, indústrias estão fora das compras, resultado do escoamento lento da carne bovina no mercado interno, que tem impactado negativamente na cotação da arroba do boi, e de um preço à exportação frouxo, que tem diminuído a margem das indústrias exportadoras, fatos que comentaremos adiante.

No mercado do boi gordo, em São Paulo, em julho (até 28/7), as cotações do boi comum e do boi “China” tiveram queda de R$ 15,00/@ e, atualmente, estão cotados em R$ 235,00/@ e R$ 240,00/@, respectivamente, preços brutos e a prazo.

A tendência de frouxidão nos preços deve persistir e ofertas abaixo da referência já estão sendo relatadas na praça paulista, mas o mercado, em função da oferta de gado, que está menor, tem segurado o viés baixista imposto pela ponta compradora, impondo uma espécie de “cabo de guerra”.

Figura 1
Média mensal de preços do boi comum e do boi “China”, nos últimos 13 meses, em R$/@, preços brutos e a prazo, em São Paulo. 

Fonte: Scot Consultoria

Exportação de carne bovina in natura

No primeiro semestre de 2023, o Brasil exportou 882,6 mil toneladas de carne, volume 4,9% menor quando comparado ao mesmo período do ano passado, reflexo do embargo à China, principal importador. 

Ainda assim, janeiro, maio e junho foram meses recordes na exportação em comparação com seus respectivos meses em anos passados (Secex).

Até a terceira semana de julho, foram exportadas 117,6 mil toneladas, totalizando 7,8 mil toneladas diárias, queda de 1,5% em comparação ao mesmo período de 2022. O preço pago pela tonelada está em US$ 4,7 mil, 27,4% menor na mesma comparação. Ao preço médio, em dólares, menor, soma-se a cotação da moeda norte-americana abaixo dos R$ 4,80 em alguns momentos de julho, pressionando as margens das indústrias frigoríficas.

Essa queda no faturamento é explicada pelos preços das carnes bovina, suína e de frango na China, que têm diminuído, levando o país a negociar preços menores.

Escoamento no mercado interno

Não é apenas a cotação da arroba do boi que vem caindo. Em São Paulo, os preços de carne com osso estão em queda no mercado atacadista e têm pressionado também os preços da carne sem osso. Em 28 de julho, o boi casado capão estava cotado em R$ 15,59/kg, e o boi casado inteiro, em R$ 13,93/kg, queda de 4,2% e 8,0%, respectivamente, no comparativo semanal (tabela 1).

Tabela 1
Preços dos cortes no mercado atacadista de carne com osso, em R$/kg, em São Paulo.

Fonte: Scot Consultoria

O consumo está fraco no mercado doméstico. A queda observada nos preços da arroba e nas carcaças não são repassadas na mesma intensidade ao consumidor pelo varejo. Além disso, julho é período de férias escolares, fator que leva à diminuição da demanda, intensificada pelo final de mês, período em que o salário da maior parte da população já acabou.

No varejo, no comparativo anual, a média de preços dos cortes monitorados (28 de julho) teve queda de 11,4%. Em relação ao início do mês, houve recuo de 4,4%. Em uma semana, queda de 0,5%.

Figura 2
Média mensal de preços da carne bovina no varejo (eixo esquerdo) e do boi casado capão (eixo direito), nos últimos 13 meses, em R$/kg, em São Paulo. 

Fonte: Scot Consultoria

Expectativas para agosto

O início do mês deve chegar com preços em baixa. O fraco escoamento da carne e a saída dos bovinos do primeiro giro do confinamento devem manter os preços pressionados.

Contudo, a comemoração do Dia dos Pais, no segundo domingo de agosto, deve trazer um movimento positivo, podendo dar sustentação aos preços, porém nada muito expressivo. 

O principal ponto de atenção e que poderá colaborar com o movimento é a estratégia que o mercado varejista poderá tomar, em meio a uma aquisição de carne bovina no atacado com preços menores. Facilitando, ao diminuir os preços, ou mantendo o viés travado de escoamento da carne bovina, ao manter em patamares mais elevados.

Pensando em um prazo maior, no segundo semestre do ano, geralmente, há maior consumo da carne bovina devido aos empregos temporários, pagamento do 13º salário e confraternizações de final de ano. Há também menor oferta de fêmeas para abate quando comparado ao primeiro semestre.

Em relação à exportação, historicamente, o volume de carne embarcado para a China é maior, principalmente entre agosto e outubro.

Esses fatores podem levar a uma reação positiva nas cotações. Porém, é importante lembrar que, em razão da fase de baixa vigente do ciclo pecuário, não devem ocorrer aumentos expressivos.