Blog •  13/11/2023

Ciclo pecuário: saiba o que é e como se adequar a ele

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Preparar-se para as diferentes etapas faz com que produtores naveguem por alta e baixa com mais tranquilidade

No mercado pecuário, quando a produção de bezerros cresce, o preço cai, acarretando o aumento do abate de fêmeas e a queda do preço do boi gordo. A partir disso, a produção dos jovens animais diminui, elevando o preço dos bezerros. Cresce, então, a retenção das fêmeas e o preço do boi gordo. Esse processo é conhecido como ciclo pecuário – e conhecê-lo é essencial para navegar por cada uma das fases com sucesso.

“O ciclo é o que determina a oferta de boi gordo no mercado”, diz o analista de inteligência de mercado da StoneX Felipe Sawaia. Desde 2022, por exemplo, ele está na fase baixa, porque a queda no preço do bezerro levou os produtores a começarem a descartar matrizes, ampliando a produção de carne. Só no segundo trimestre deste ano, foram 8,24 milhões de cabeças de gado abatidas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – volume 11% maior em relação ao mesmo período de 2022.

Fases do ciclo pecuário

A partir do próximo ano, a perspectiva é de que o escasseamento dos bezerros inicie o movimento de virada, que deve se consolidar a partir de 2025. “É uma dinâmica por si só”, afirma Sawaia sobre as condições que formam e impulsionam o ciclo. Ou seja, independentemente de fatores externos, a variação sazonal vai existir. 

Contudo, cada movimento que integra o processo pode ser impactado por fatores externos. A inflação, por exemplo, costuma desestimular o consumo de carne bovina e desacelerar a redução da oferta. A ampliação de exportações, por sua vez, pode ter efeito contrário. 

“Os dados do IPCA mostram que a carne bovina vendida ao consumidor sofreu uma deflação de 9,1% na comparação anual. Esse recuo nos preços é significativo e, de modo geral, tem estimulado um crescimento no consumo doméstico de carne bovina na comparação com o período que vai de 2020 a 2022. O consumo doméstico, entretanto, não está aquecido”, diz o especialista sobre o momento atual.

Segundo ele, um fator que impactou o ciclo pecuário brasileiro recentemente foi a ampliação das vendas de carne bovina para a China a partir de 2019. “A China exige que os animais sejam abatidos com até 30 meses, então o ciclo se tornou mais curto”, diz o especialista. O anterior ao que estamos vivendo foi de cinco anos (2017-2021). Antes deles, houve um de seis anos (2011-2016).

“A tendência é o ciclo começar a se estabilizar. No último, a questão da China era novidade, mas é um mercado que já está em processo de consolidação. O crescimento do volume adquirido pela China tem sido mais lento”, explica Sawaia.

Planejamento na pecuária de corte

O planejamento é a chave para navegar pelas altas e baixas dos ciclos sem sofrer tanto com as variações. Isso significa saber aproveitar as oportunidades que cada etapa oferece. Nos períodos em que os preços de bezerros e boi gordo estão em alta, por exemplo, uma orientação é investir parte dos recursos que estão entrando na própria fazenda para ampliar a capacidade produtiva. 

Outra medida importante é aproveitar o momento para fazer caixa para o momento de baixa. É a disponibilidade de recursos que vai permitir que o produtor tome decisões estratégicas rapidamente quando a receita não estiver em seu melhor parâmetro. 

Nos períodos de baixa, por sua vez, a recomendação é fazer investimentos estratégicos, como na reposição de longo prazo de terminação (matrizes, vacas prenhes e bezerros), com foco em animais com genética superior. Também é este o momento de repensar os processos produtivos para qualificá-los e otimizar o uso de recursos.

Outra alternativa, conforme Sawaia, é recorrer a estratégias de gestão de risco, que envolvem ferramentas de mercado futuro e “travam” os preços. “Isso vai amenizar as flutuações que são muito comuns no mercado de commodities”, diz