A longa duração da estiagem tem acentuado as dificuldades de pecuaristas para manter o gado nutrido e saudável. Com a falta de chuvas, o crescimento e o vigor do capim são afetados, tornando a pastagem mais fibrosa e a forragem menos nutritiva, o que interfere na qualidade da dieta bovina e no desempenho produtivo do rebanho.
Nesse período, a principal preocupação dos pecuaristas é a de manter o gado nutrido e, ao mesmo tempo, cuidar para que os animais não percam o peso que ganharam antes da estiagem, o que pode aumentar a predisposição a doenças.
Especialistas são unânimes em afirmar que o planejamento é essencial para prevenir os danos nutricionais causados ao gado no período de seca. O ideal é que as medidas de enfrentamento sejam tomadas já no período anterior à estiagem, para que no momento de escassez haja uma resposta satisfatória no desempenho do animal.
Conversamos com o engenheiro Agrônomo e doutor em Produção Animal e Pastagens José Renato Silva Gonçalves, que forneceu dicas importantes para cuidar do gado durante a seca. Confira:
Independentemente da época do ano, o bem-estar animal é alcançado quando as necessidades básicas do gado, principalmente as nutricionais, são atendidas. Segundo Gonçalves, antes de qualquer tecnologia ou suplemento é preciso levantar todas as situações e informações possíveis da região e da propriedade, e ter um histórico sobre a área, as chuvas e a produção.
“Diagnóstico e planejamento são as primeiras ações para prevenir o período seco. É preciso ter um planejamento estratégico para a adubação de pastagens, produção e conservação de alimentos, e assim se preparar para fornecer alimento em qualidade e quantidade para os animais durante o ano todo”, afirma Gonçalves.
O engenheiro Agrônomo explica que o Brasil é um país tropical com plantas forrageiras adaptadas às condições locais, o que possibilita a produção de capim com qualidade e em quantidade necessária para alimentar os animais. No entanto, na seca essa produção é prejudicada pela falta de umidade e pela chuva.
“O principal fator a considerar é qual será a restrição de alimentos ocasionada durante a seca e quais as estratégias para resolver essa restrição. O diagnóstico indicará quais deficiências deverão ser supridas: se é a qualidade, a quantidade de nutrientes na forragem ou as duas situações”, pontua.
Uma solução para prevenir a insuficiência de pastagem na seca é a de modificar a quantidade de animais na fazenda. Essa estratégia reduz bastante a necessidade de suplementação.
“O produtor pode se programar para ter um volume maior de animais na época de chuvas, vendendo os que estão prontos antes da seca. Para isso, ele deve se preparar para ter animais aptos para comercialização no final do período chuvoso e, assim, passar o período seco com uma quantidade menor de animais”, orienta o engenheiro Agrônomo.
A utilização do método do pastejo rotacionado no período chuvoso também é muito importante, porque possibilita colher melhor o pasto, aumentar a eficiência do pastejo, aumentar a lotação e a produtividade. Nessa prática, os pastos são usados de forma alternada e descontinuada.
“Quando a meta de pastagem é alcançada, o animal é transferido do pasto consumido para o pasto que estava descansando e, assim, sucessivamente. Essa prática aumenta a eficiência com que os animais colhem o capim, melhorando a lotação da área e a produtividade”, explica.
O mesmo não acontece no pastejo contínuo, em que os animais ficam em uma mesma área por muito tempo. Isso faz com que o pasto seja prejudicado, porque o capim não tem tempo para descansar. Nestas áreas são mantidos pastejos mais leves, para não degradar o capim. Com isso, a colheita é menor, a eficiência de pastejo diminui e a produtividade da área também.
A alimentação suplementar é uma forma de manter o gado bem alimentado, saudável e produtivo, independentemente da duração e da intensidade da estiagem. Essa estratégia deve ser bem planejada, pois quanto melhor a qualidade da suplementação estocada, melhor a resposta na nutrição do gado.
Quando a diferença entre o período das águas e da seca é pequena, é possível trabalhar somente com uma suplementação de alimentos concentrados e sal proteinado. Eles complementarão, principalmente, a qualidade da forragem.
Caso o pasto ainda se apresente em pouca quantidade na seca, é muito comum o uso da tecnologia chamada “diferimento de pastagem”, que é uma reserva de pasto. Ela tem início no final do período de chuvas, quando algumas áreas de pastagem são reservadas e ficam descansando para que haja um acúmulo de produção do pasto. Essa forragem reservada será usada mais tarde, durante a estação seca.
“Essa solução garante a quantidade de pasto, mas ainda é preciso complementar com a qualidade, que diminui porque se torna um capim com muito tempo de crescimento, chamado de pasto passado”, diz Gonçalves.
Nas situações em que a produção de pasto cai em qualidade e quantidade, são necessários suplementos que corrijam cada uma dessas deficiências. Para compensar a perda de qualidade, deve ser formulada uma ração utilizando alimentos substitutos concentrados, como milho e sorgo moído, polpa cítrica seca peletizada, farelo de soja e de algodão, ou ureia.
“Essa estratégia não é indicada se a lotação é alta. Nesse caso, é preciso fornecer uma suplementação com alimentos concentrados e volumosos, como feno, cana picada fresca e silagem. A vantagem da cana é que ela está pronta para uso durante a época seca do ano, coincidindo com a necessidade de suplementação dos animais”, orienta o engenheiro Agrônomo.
A silagem é uma forragem triturada, compactada, vedada e armazenada em silos para fermentação. Tem alto valor nutritivo e gera uma reserva para compensar a quantidade de alimentos perdida na seca. Uma das culturas mais utilizadas para produção de silagem é o milho, seguido do sorgo e da cana-de-açúcar.
Mesmo com essas alternativas, há produtores que não adotam nenhuma suplementação para o rebanho, produzindo o conhecido “efeito sanfona” – quando o gado engorda nas águas e perde peso na estiagem. Segundo Gonçalves, esse é um dos motivos que levam ao abate de animais com idade muito avançada, devido à demora em se alcançar o peso ideal.
“Infelizmente, há muitas situações em que a atividade de produção de gado não é tratada de forma empresarial e não há planejamento. Os animais ganham peso e produtividade no período chuvoso, mas quando chega a seca o gado perde quase tudo o que ganhou”, comenta.
Em outros casos, a pastagem é usada com mais animais do que o espaço pode suportar durante o período chuvoso, a ponto de não haver um ganho de peso significativo nem mesmo na época das águas. “Essas práticas são totalmente contraindicadas. O produtor que não tem um planejamento para a alimentação dos animais vai gerar uma grande redução na capacidade reprodutiva e na rentabilidade de seu rebanho”, alerta.
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