Controle da obesidade de vacas na gestação evita doenças
Pesquisa comprova que dieta para bovinos leiteiros no período seco é insuficiente para evitar problemas. O controle do peso deve começar antes.
Pesquisa comprova que dieta para bovinos leiteiros no período seco é insuficiente para evitar problemas. O controle do peso deve começar antes.
Uma pesquisa realizada com a parceria entre Brasil e Canadá mostrou que o controle da obesidade de vacas leiteiras ao longo da gestação – e não apenas nas últimas semanas – é essencial para evitar problemas de saúde no pré e pós-parto. A partir dela, é possível que produtores tracem estratégias para manter animais com boa condição corporal.
O estudo partiu do seguinte problema: quando vacas leiteiras chegam nos últimos 60 dias da gestação e entram no período seco, aquele em que a lactação é suspensa para permitir que o animal se prepare para o parto, é comum que elas ganhem peso. Afinal, além de ser o momento em que o feto mais se desenvolve, é também o momento em que a vaca deixa de gastar o mesmo tanto de energia.
Cientes de que a obesidade desses animais no momento do parto pode gerar problemas de saúde como o acúmulo de gordura nas células do fígado (esteatose hepática) e alterações metabólicas decorrentes de desequilíbrio energético (cetose) – o que, em última instância, pode levar a uma maior vulnerabilidade a doenças e à perda de desempenho reprodutivo –, os produtores costumam recorrer a dietas para equilibrar o peso dos animais obesos.
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Contudo, o professor Ruã Darós, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em parceria com os pesquisadores Casey Haervekes e Trevor DeVries, da Universidade de Guelph, no Canadá, puderam comprovar aquilo que muitos sentiam na prática: que a medida não é eficiente – e mais, que o controle do peso das vacas por um período mais longo do que o seco é o que realmente traz benefícios para o rebanho.
“As pesquisas anteriores apontavam que se a vaca estiver muito gorda no momento do parto, elas podem ser acometidas por uma gama de doenças. Os produtores tentavam fazer várias dietas e concluíram que isso prejudicava mais do que ajudava”, retoma Darós. “Então, o ponto de partida para a pesquisa foi a questão: o que acontece com a vaca mais gorda que está no período seco?”
Para responder a essa questão, os pesquisadores se debruçaram sobre outros estudos e observaram o comportamento tanto de animais em boa condição corporal ao longo de toda a gestação quanto daqueles considerados obesos. “Olhamos para essa dinâmica de consumo de alimento e de mudança de condição corporal. Descobrimos que os animais no peso certo comem mais durante o período seco, mas não engordam e mantêm a condição corporal”, explica o pesquisador.
Os animais obesos, por sua vez, passam a comer menos – e até perdem algum peso –, mas uma propensão genética para prepará-los para o parto os faz mobilizar gordura e é esse processo que os torna mais propensos a doenças no pós-parto. “Conseguimos aferir essa mudança na condição corporal das vacas obesas, independentemente do que elas comiam e do quanto. Mesmo que o produtor adote uma dieta superadequada, as vacas mais obesas vão perder condição corporal e, consequentemente, terão mais problemas de saúde no período pós-parto”, resume
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Os achados indicam que é preciso fazer o controle do peso antes do que o imaginado. “Se você quiser vacas saudáveis no pós-parto, pensando em um ciclo gestacional de janeiro a dezembro, precisa modular a nutrição ali pela metade do ano para que ela chegue num escore de condição corporal 3 no período seco”, afirma Darós.
Diante dos resultados, a melhor estratégia para o produtor é, segundo o pesquisador, trabalhar para que o rebanho tenha um parto por ano para não dar chance de as vacas engordarem. “Se estender a lactação, elas vão engordar muito”, diz.
Caso a reprodução atrase, a alternativa é buscar identificar, com ajuda de nutricionista, o momento ideal para transferir os animais de uma dieta de produção para uma com menos energia. Nesse caso, há duas ressalvas: a primeira é que a opção é mais difícil para o pequeno produtor que não necessariamente conta com o auxílio de um profissional qualificado para isso e pode não conseguir uma dieta diferenciada para poucos animais.
A segunda diz respeito aos valores do escore de condição corporal. “Antigamente, falava-se que o animal tinha que chegar no período seco com escore de 3,5 ou 3,75. Hoje é 3 – e arrisco dizer que até 2,75 tem condições de ganhar um pouco de peso nos 60 dias e chegar bem no parto”, afirma Darós.
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