Pecuaristas podem propor soluções para redução de carbono no país
Produtores podem contribuir para uma pecuária mais sustentável apresentando propostas de redução de emissão de gases de efeito estufa
Produtores podem contribuir para uma pecuária mais sustentável apresentando propostas de redução de emissão de gases de efeito estufa
A pecuária é um dos setores que podem apresentar suas propostas para o estabelecimento de curvas de redução de emissões de gases de efeito estufa, conforme prevê o decreto federal que regulamenta o mercado de baixo carbono no país. O prazo encerra no mês de novembro.
Publicado em maio deste ano, o decreto estabelece os procedimentos para elaboração dos Planos Setoriais de Mitigação das Mudanças Climáticas e institui o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Sinare). Os planos visam à consolidação de uma economia de baixo consumo de carbono, considerado o objetivo de longo prazo de neutralidade climática e melhoria no uso dos recursos naturais.
Para entender melhor, conversamos com a especialista em prevenção de passivos ambientais e eliminação de desperdícios e recursos naturais, e também diretora da Flos Ambiental, Clarissa Souza.
Segundo a especialista, o propósito do decreto é regulamentar os planos setoriais de mitigação das mudanças climáticas, que são instrumentos de planejamento para cumprimento de metas climáticas. “O decreto oferece a setores econômicos específicos, entre eles a agropecuária, a possibilidade de apresentar propostas de redução de emissão de gases de efeito estufa, ou seja, curvas de descarbonização”, diz.
A Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), criada em 2009, estabeleceu que o governo executivo vai decretar a curva de descarbonização para os setores. Porém, destaca Clarissa, em vez de trazer essa imposição, o decreto abre uma oportunidade de diálogo com os setores da economia.
“O prazo é uma oportunidade de apresentar a curva de redução de emissões sugerida por cada setor. Ainda não é obrigatório, mas, com políticas cada vez mais sustentáveis caminhando a passos largos, é importante que o pecuarista prepare a sua empresa, independentemente do tamanho”, salienta.
A divulgação dos planos pode ser feita por meio de protocolos de intenção ou acordos de cooperação. Até julho deste ano, seis associações haviam assinado protocolo de intenções com o Ministério do Meio Ambiente, contemplando o plano de trabalho para definição das metas progressivas e graduais, além do cronograma do seu plano de mitigação.
Para as empresas interessadas em apresentar suas propostas, o primeiro passo é elaborar o inventário de emissões de gases de efeito estufa. Os próximos passos são a gestão das emissões, os projetos de compensação e os projetos de crédito de carbono.
A especialista destaca que as emissões de gases de efeito estufa devem entrar no sistema de gestão ambiental das empresas e serem monitoradas e controladas por meio de procedimentos documentados, da mesma forma que os demais aspectos ambientais, como água, efluentes e resíduos.
Desde a publicação da PNMC, muitas empresas de capital aberto já realizam anualmente o inventário de emissão como forma de preservar o meio ambiente. Os cálculos são realizados por meio de fatores de emissão.
“A Embrapa Meio Ambiente tem um excelente trabalho de pesquisa de fatores de emissão relativos a atividades agropecuárias. Estes dados são importantes para o aprimoramento de inventários nacionais de emissão de gases de efeito estufa e podem ser aplicados por países com condições ambientais e manejos de produção similares”, afirma.
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A diretora da Flos Ambiental acredita que o agronegócio pode se desvincular da imagem negativa como grande emissor de carbono, divulgando informações e dados que comprovem para o mundo a grande vocação do Brasil para a sustentabilidade.
“O Brasil tem uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e o agronegócio é o principal setor da economia que, para trabalhar, precisa cumprir toda a legislação. Além disso, a preservação da natureza faz parte da sustentabilidade do agronegócio”, afirma.
Clarissa lembra que o Brasil é responsável por uma parcela pequena das emissões (2,9%) se comparado ao ranking de territórios que mais emitem gases do efeito estufa no mundo. Somados, China, Estados Unidos, Índia e União Europeia são responsáveis por 51,2% das emissões. Ainda assim, são alvos de críticas de forma menos frequente que o Brasil.
Como exemplo, ela cita a preservação das florestas nativas para garantir a conservação de recursos hídricos necessários para os cultivos. Estudos apontam que 66,3% do território nacional é preservado, com as várias formas de vegetação nativa, cuja natureza e estado variam bastante entre os diversos biomas.
Nas últimas décadas, o Brasil tem avançado em iniciativas para redução de carbono. Em 2010, foi publicado o primeiro Plano ABC – Agricultura de Baixo Carbono, que é um plano setorial vinculado às diretrizes da Política Nacional sobre Mudança do Clima e relativo aos compromissos internacionais assumidos pelo país.
O ano de 2022 foi marcado pela publicação do Plano ABC+, para estímulo à adoção de práticas de produção sustentáveis, com compromissos assumidos até 2030. Entre as metas estão a ampliação de áreas com práticas para recuperação de pastagens degradadas, plantio direto, sistemas de integração e florestas plantadas. O plano prevê ainda ampliar a adoção de bioinsumos, sistemas irrigados, manejo de resíduos da produção animal e terminação intensiva.
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Alinhada às iniciativas mundiais pela sustentabilidade ambiental, a Corteva Agriscience™ criou, em 2020, a Plataforma-S, para contribuir com o crescimento de uma pecuária mais sustentável no país.
A iniciativa contempla diversas ações que têm efeitos diretos na produtividade e na redução da emissão de carbono, apoiando o pecuarista para o crescimento sustentável e mostrando que sustentabilidade e produtividade podem andar juntas.
Uma das ações é o Pecuarista-S, que auxilia produtores no mapeamento dos níveis de carbono, por meio de boas práticas de manejo na propriedade. Com a equipe técnica da Corteva Agriscience, o pecuarista aprende a mensurar o balanço de carbono da sua propriedade, verificar nível de sustentabilidade, implantar boas práticas agropecuárias e gerar informação para o protocolo da Embrapa.
A Corteva Agriscience acredita que é possível aumentar a produtividade e reduzir carbono na pecuária aplicando técnicas de manejo de pastagens. Com este foco, trabalha há mais de 60 anos no desenvolvimento de soluções simples e eficientes que restauram a qualidade da pastagem sem descuidar do meio ambiente.
Recentemente, a empresa foi parceira em um estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) e do Instituto Federal de Alagoas, que calcularam a emissão de carbono equivalente por quilograma de carcaça em cinco tipos de manejo de pastagem.
O levantamento contabilizou as emissões de gases estufa e a pegada de carbono da produção de carne bovina nas principais regiões produtoras do país. Foram comparadas propriedades em condições de pastagem degradadas com outras em diferentes níveis de intensificação da produção, como pastagem bem manejada, controle de plantas invasoras, aumento de taxa de lotação, pastejo rotacionado eadubação e calagem.
O resultado comprovou que os locais com intensificação de técnicas de manejo de pastagens apresentaram uma tendência de redução da pegada de carbono. Além disso, a produtividade de carcaça aumentou a intensificação do manejo.
Acompanhe o nosso blog e fique por dentro das principais ações da por uma pecuária mais sustentável.