Blog •  15/06/2023

Pressão de pastagem: o que é e como planejar os cuidados com rebanho em períodos secos

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Confira algumas dicas de Maurício Velloso para aplicar nas fazendas, como planejamento com rodízio de áreas e prevenção com lavouras de palhadas.

Se tem uma coisa a que o pecuarista precisa sempre estar atento é o clima. E os desafios costumam estar na transição de estações, como, por exemplo, de uma forte estiagem para a época de chuvas. Isso porque o clima interfere diretamente no fornecimento de pastagem para o rebanho, bem como no manejo dos animais.

Há vários fatores importantes para o pecuarista cuidar e para isso é necessário fazer um planejamento do manejo. Sendo assim, conversamos com Maurício Velloso, presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), sobre como equilibrar planejamento com clima e produtividade.

Segundo ele, é crucial que o pecuarista se atente à pressão de pastagem, que nada mais é do que “a relação entre o peso vivo dos animais em pastejo e a quantidade de forragem disponível. Parece simples, mas esse fator determina o sucesso ou insucesso no manejo de pastagem”, explica.

Isso significa que o ganho por animal tem relação direta com a disponibilidade de forragem. Por exemplo, o máximo ganho por animal ocorre quando a pressão de pastejo é baixa e/ou a disponibilidade de forragem é alta. Porém, baixas lotações favorecem a perda de pasto, então o que deve ser buscado é o melhor ganho (e não o maior), que acontece quando o pastejo (entrada e saída dos animais da pastagem) acontece na hora exata, no momento ótimo daquela forragem. Para alcançar a pressão de pastagem adequada, Maurício Velloso indica ao pecuarista fazer rodízio de áreas dentro da fazenda, com observação diária do consumo.

Parece uma conta difícil de fechar, mas com planejamento é possível e indispensável.

"Dentro da propriedade, o ideal é haver áreas de reserva, ou diferimento, de forragem, mesmo seca. E nem estou falando de folhas. Sabemos que comida de gado não é capim, e sim folhas de capim, mas, nesse ponto, o que importa mesmo é ofertar massa ao rebanho, o volumoso indispensável ainda que de baixo teor nutricional, a fim de que as outras áreas descansem sem pressão de pastejo sobre aquelas infinidades de minúsculas folhas que pouco resolvem o problema do rebanho e contribuem fortemente para o esgotamento radicular. Essa é uma questão primordial do planejamento escolher essas áreas", orienta.

Dessa maneira, porém, o especialista destaca que uma ou mais áreas provavelmente terão que ser escolhidas para sacrifício em benefício das outras, sempre as melhores. "Ou seja, são áreas em que o gado vai exigir mais do que deve, então a sugestão é que sejam previamente identificadas e selecionadas como áreas de reforma ou recuperação", sugere.  E aqui é um momento delicado para o produtor, em que não se pode esquecer da correta e estratégica suplementação. "Não deixe o escore do gado despencar, cair. Provavelmente ele tenderá a escorrer, mas não permita que isso seja um tombo, afinal, é o seu ativo que cai! Há classes de gado em que apenas a manutenção é suficiente; já em outras o ganho (GMD) é crucial, sob pena de prejuízos diários. Cuide bem desse momento e da estratégia de nutrição, pois é a garantia do seu ganho futuro", alerta.

Planejar é se antecipar

Tudo o que acontece numa fazenda (de certo e de errado) é resultado do que foi ou não executado há um ou dois anos. Então, o cenário futuro desejado, de equilíbrio entre o rebanho existente e a disponibilidade de forragem necessária, precisa começar um ou dois anos antes.

Segundo Velloso, o período seco se repetirá sempre, em todos os anos vindouros. E sempre sob duas modalidades: ou será uma "seca braba" ou uma "seca muito braba". Mas ocorrerá, certamente. “Não é aceitável que se alegue surpresa pela sazonalidade, por faltar forragem, água e suplementos suficientes para arraçoar o rebanho não há surpresa, há falta ou deficiência de planejamento. E o planejamento, a previsão, o  provisionamento, a antecipação e a predição é a diferença entre o ganho e a ruína. Antecipação sugere a antevisão do que pode ocorrer, e mitigar essas ocorrências, como, por exemplo, fogo em pastos diferidos. É um risco iminente e difícil de ser evitado. Portanto, faz-se mister promover outras formas de seguro-alimentação, como silagem e feno”, reforça.

Maurício Velloso sugere aos pecuaristas investirem em lavouras de capim, milho, sorgo, girassol, guandu e milheto e aproveitar cada pequena área, racionalmente, no período das chuvas, produzindo o excedente a ser ministrado na seca. “A silagem durante a chuva plena e feno ao fim das águas. Se tratando de volumoso, é melhor sobrar do que faltar. O importante é planejar e ter o volumoso que o rebanho vai consumir, mas pensando naqueles animais que vão permanecer na fazenda no próximo ano durante o período seco e o destino desses animais, quem fica e quem vai. Essa é a hora de passar um pente fino no rebanho, identificá-lo, projetando a evolução e predizendo o objetivo comercial. Dar início ao ano pecuário (agosto a julho) é antecipação, é equilíbrio e sossego. Desde saber o tamanho das áreas, capacidade de suporte, fazer as análises de solo, providenciar calcário, gesso, adubo e sementes e também os insumos para os suplementos – todas essas compras, lembrando ainda dos produtos de saúde e reprodução, devem também ocorrer de forma estratégica”, diz o especialista.

“E, dentro do processo, está também o armazenamento de forragem. Também é recomendado fazer o sequestro do rebanho, que é a retirada de todos os animais das áreas de pasto, visando a completa recuperação e rebrote das pastagens às primeiras chuvas prática que confere ganhos de vigor e densidade aos pastos, concomitante ao desenvolvimento que o rebanho precisa e merece. E também para que o pecuarista tenha conforto, tranquilidade e rentabilidade", finaliza.

Ciclo pecuário

De acordo com Maurício Velloso, o ciclo pecuário se repete, tanto em baixa quanto em alta. “Deixo aqui o lembrete, estamos bem próximos do limite de baixa, quando então o ciclo se inverte. As ações que você iniciar agora irão resultar na maior ou pior produtividade das suas áreas e do seu rebanho nos próximos anos de alta. Esteja atento e precavido”, recomenda.