Blog •  03/02/2023

Como deverá ficar a arroba do boi em fevereiro?

Autora:  Jéssica Olivier, engenheira agrônoma
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Final do mês trouxe mais firmeza ao “boi China”.

O mercado é mutável. O acompanhamento é essencial. Na primeira quinzena de janeiro, vimos os preços do boi gordo com recuos expressivos, pois a necessidade de compra da indústria estava baixa. Os preços mais travados duraram até a terceira semana do mês, mas fecharam a sexta-feira (27/1/23) com reação no preço da arroba do “boi China”.

Nos primeiros meses do ano, a maioria do gado gordo abatido provém de terminação realizada em pastagens. Diferentemente do confinamento, “segurar” os animais no piquete por mais uns dias apresenta um custo menor, permitindo maior flexibilidade na oferta de boiada pelo produtor.

Com a expectativa de boas compras por parte do mercado chinês, passado o feriado nacional (Ano-Novo Chinês) e as notícias que o setor recebeu ao longo do mês (mais detalhes adiante), a indústria já está se abastecendo para suprir tal demanda. O produtor está conseguindo barganhar com a indústria frigorífica.

Já a cotação do bovino destinado ao mercado interno não sofreu alteração nesse mesmo período. A cotação das carnes com osso no atacado recuou e tirou o pé do comprador de gado do acelerador, tanto em volume de gado a ser adquirido como em preço pago pela arroba. Veja na figura 1 e 2.

Figura 1
Cotação do boi gordo destinado aos mercados interno e externo (“boi China”), em R$/@, preços brutos e a prazo.

Fonte: Scot Consultoria

O grande volume de vacas e novilhas adquirido tem resultado em queda mais expressiva na carcaça casada dessas categorias. No acumulado de janeiro, vaca e novilha casadas recuaram 8,6% e 8,3%, respectivamente.

Figura 2
Cotação da carcaça casada de boi (inteiro e capão), vaca e novilha, no atacado paulista.

Fonte: Scot Consultoria

Para somar à situação, o setor exportador ainda trabalha com recuo nos preços pagos pela tonelada de carne bovina in natura exportada. O volume, por outro lado, deverá ser recorde.

Até a terceira semana de janeiro, foram exportadas 107,1 mil toneladas, que resultaram em faturamento de US$520,33 mil.

O volume exportado diariamente (7,14 mil toneladas) está 8,6% maior este ano, quando comparado à média de janeiro/22 (6,57 mil toneladas). Olhando para o desempenho de dezembro/22 (6,94 mil toneladas), houve aumento de 2,8%.

Se continuarmos nessa toada, janeiro será recorde em relação aos seus pares em anos anteriores no quesito volume.

Apesar dos embarques expressivos, o preço pago por tonelada está cada vez menor. Na comparação mensal (jan/23 x dez/22), o preço atual (US$4.858,59/t) é 1,9% menor. Em relação a janeiro/22, o recuo é ainda mais expressivo, de 7,2%, quando era pago US$5.233,50/t.

Mercado internacional

Em 18/1, a planta da JBS, em Mozarlândia (GO), foi novamente habilitada para a exportação de carne bovina in natura à China.

A notícia é importante devido ao peso dessa unidade para a exportação ao país. O movimento de bovinos que estavam sendo direcionados a outras plantas deverá tornar-se menor.

Além disso, também foi informado sobre a habilitação para exportação de carne bovina in natura à Indonésia em onze novas plantas frigoríficas do país.

Os frigoríficos habilitados foram:

1. Marfrig (Promissão/SP)

2. Marfrig (Chupinguaia/RO)

3. Marfrig (Tangará da Serra/MT)

4. Minerva (Janaúba/MG)

5. Barra Mansa (Sertãozinho/SP)

6. Vale Grande (Matupá/MT)

7. Frigol (Água Azul do Norte/PA)

8. Mercúrio (Xinguara/PA)

9. Frigon (Jaru/RO)

10. Maxi Beef (Carlos Chagas/MG)

11. Astra (Cruzeiro do Oeste/PR)

No ano passado, o Brasil exportou 20,5 mil toneladas de carne bovina para a Indonésia a um preço médio anual de US$ 5,38 mil por tonelada, faturando cerca de US$ 110,1 milhões, uma participação próxima a 1% do faturamento total da exportação de carne bovina in natura em 2022.

Ao que tudo indica, a habilitação para a Indonésia não deverá influenciar nos preços praticados pelo boi gordo. Entretanto, destacamos que o mercado chinês também começou moderado e, mais importante que os volumes, é levar em consideração que todo aumento de parceiros comerciais é bem-vindo.

O ano começa com boas notícias para o setor exportador.

Expectativa para o curto prazo

Com a virada de mês e o feriado de Carnaval, o escoamento doméstico de carne bovina pode aumentar, dando mais firmeza à venda de carne no atacado com osso, freando a queda de preços das carcaças dos machos. Entretanto, devido à boa oferta de fêmeas, as carcaças casadas de vacas e novilhas podem enfrentar mais recuos nos próximos dias.

Quanto ao mercado externo, passado o Ano-Novo Lunar chinês, as compras do país deverão reaparecer com mais vigor. Assim, como já tem sido visto, a indústria está se abastecendo, o que resulta em maior firmeza à cotação do “boi China”.

Essa firmeza, porém, só deverá se confirmar se a China pagar mais pela tonelada exportada. Porém, esperamos que essa situação de preços seja pontual, ampliando, principalmente, o ágio entre o “boi China” e o boi do mercado interno nesse primeiro semestre.