Descubra por que cuidar da qualidade da água para o seu rebanho interfere na produtividade
Bebedouros artificiais ou fontes naturais? Especialista orienta pecuaristas a cuidar das fontes de água dos animais.
Bebedouros artificiais ou fontes naturais? Especialista orienta pecuaristas a cuidar das fontes de água dos animais.
Todo pecuarista busca prosperar na atividade com o menor custo de produção, afinal, a pecuária exige investimento e dedicação para alcançar os resultados desejados. Para ajudar você nessa missão, o Pasto Extraordinário lança a série “Prosperando na pecuária com baixo investimento”.
O objetivo é mostrar que a implementação de práticas simples, como manejo adequado do pasto, fertilização de acordo com as recomendações de testes de solo e gerenciamento de plantas daninhas podem beneficiar diretamente os resultados financeiros dos pecuaristas.
Além de mostrar que cultivar mais pastagem e aumentar a utilização delas são grandes passos para tornar a pecuária um negócio de lucro por hectare. No primeiro texto da série, vamos mostrar a importância da qualidade da água oferecida ao rebanho.
Algo que pode ser visto como um detalhe se torna um dos segredos de maior ganho médio diário, bem como de bem-estar animal: a qualidade e a forma de beber água. Adilson de Paula Almeida Aguiar, zootecnista e especialista em produção animal em pasto, comenta que “experimentos avaliando o comportamento animal revelaram que, quando os animais podem escolher entre beber água em um bebedouro ou beber em açudes, cacimbas, córregos, riachos, rios, entre outros, a maioria dos animais – e na maioria das vezes – prefere beber a água do bebedouro”.
A revelação dos experimentos está diretamente relacionada à diferença de ganho médio diário do rebanho. Adilson Aguiar – que também é professor de nutrição e alimentação de bovinos e consultor de projetos de pecuária de corte e leite bovino – se refere a dois experimentos que, em números, mostram a diferença de ganho.
No primeiro teste, os animais de recria foram separados em dois lotes. No primeiro, eles tinham acesso à água em bebedouro e ganharam 105 g/dia a mais, o que representou 39% a mais de ganho, em comparação com os animais do segundo lote, que beberam água em uma cacimba (água de chuvas e de enxurradas acumuladas em um buraco cavado pelo ser humano). Já no segundo experimento, vacas paridas com bezerros ao pé, que beberam água no bebedouro, ganharam 270 g/dia a mais do que as vacas que beberam água em um córrego (livre acesso). E os bezerros das vacas que beberam água no bebedouro ganharam 140 g/dia a mais do que os bezerros das vacas que beberam água do córrego.
Fonte: Adilson Aguiar
“Em ambos, a fonte de captação da água era a mesma, o que mudava era a forma de acessar a água. Agora, veja, bovinos ingerem entre 3,5 a 5,5 litros de água por quilo de matéria seca ingerida (amplitude de ingestão condicionada por vários fatores, mas principalmente pela temperatura ambiente). Portanto, restrições na ingestão de água irão restringir o consumo de alimentos (forragem, concentrados) também. Isso explica, em grande medida, por que mesmo em fazendas onde o rebanho ‘encontra-se blindado’ com vacinações, vermifugações preventivas e medicações, o desempenho é menor comparado com animais que bebem em bebedouro”, completa o especialista.
Adilson Aguiar lembra ainda que águas paradas são os principais focos de doenças infecciosas como botulismo, coccidiose ou eimeriose, fasciolose, verminoses, entre outras. “As águas de pior qualidade são as acumuladas em cacimbas, açudes, em poços, em córregos e riachos, pois, em período de seca, o fluxo de água é interrompido. Elas acumulam areia, barro, fezes, urina, materiais orgânicos que ficam em suspensão quando a água é agitada pelo pisoteio dos animais (quando eles vão beber). Nessas condições, a ingestão de água é menor”, adverte.
O cuidado com a água que seu rebanho bebe é, portanto, um passo importante para tornar a pecuária um negócio ainda mais lucrativo. Mas como facilitar o acesso à água de rio, e mais: como manter a qualidade? O zootecnista Adilson Aguiar defende que os cursos de água naturais, como córregos e riachos, sejam isolados do acesso dos animais e que a sua água seja bombeada para abastecer bebedouros.
Segundo ele, “tudo que se tenta fazer para garantir quantidade e qualidade de água em cursos de águas naturais é paliativo. Sempre vai ter assoreamento, devido ao pisoteio do gado nas margens do rio – o que provoca erosões e contaminação da água, como já citado. Outra vantagem da provisão de água em bebedouro é poder definir a sua localização, o que não é possível se a água para o rebanho for de uma fonte natural”.
A localização da fonte de água é importante porque, conforme o especialista, esse é o maior condicionador do comportamento do animal ao longo de 24 horas. Ele orienta que todos os recursos para prover aos animais – como sombreamento, áreas para descanso e ruminação, cochos com suplementos, entre outros – devem estar localizados a, no máximo, 200 metros de distância da água. O ideal é que fique a menos de 50 metros.
Confira as principais orientações para fazer um bebedouro de água.
Localização: o bebedouro deve ficar perto dos outros recursos providos aos animais. Evite colocar embaixo de árvores ou de qualquer instalação que leve ao sombreamento da água do bebedouro. Sob árvores, ainda tem o inconveniente da queda de folhas e galhos, aumentando a quantidade de matéria orgânica suspensa e necessidade de limpeza com maior frequência.
Dimensões: o tamanho depende da categoria animal. Por exemplo, uma vaca que está amamentando seu bezerro precisa de 3 litros de água para cada litro de leite, mais aqueles 3,5 a 5,5 litros de água por quilo de matéria seca ingerida. Além disso, seu peso corporal e o nível de suplementação são características que condicionam a quantidade de água ingerida.
Matéria-prima para estrutura do bebedouro: dê preferência para materiais resistentes, para uma vida útil longa e com poucas manutenções.
Manutenção da qualidade da água: pode-se usar os tradicionais cloro e cal hidratada para manter a qualidade e diminuir a frequência de esgotamento e lavagem do bebedouro. Atualmente, também existem no mercado empresas vendendo soluções específicas para tais finalidades.
Com água de qualidade e o manejo correto do pasto, com a escolha correta da forrageira, definição do sistema de pastejo, adubação adequada e controle das plantas daninhas, a produtividade do rebanho alcançará seu potencial.
Sombra interfere na hidratação dos animais?Sim, e já existe comprovação em números. Um estudo da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) foi considerado pioneiro em relação ao impacto de um sistema de confinamento bovino e mostrou que animais com acesso à sombra em confinamento demonstraram melhores eficiências de água, nutrientes e terra em comparação aos animais a pleno sol. Em média, as pegadas hídricas e terrestres no tratamento com sombra foram 3% e 7% menores, respectivamente, do que no tratamento debaixo do sol. O consumo médio total de água pelos animais - durante o ciclo produtivo a pleno sol - foi de 3.252 litros, 8% maior que no tratamento com sombreamento, cuja média foi de 2.983 litros. O consumo médio diário de água por animal (sem sombra) foi de 40 litros ao dia, enquanto nos casos com acesso à sombra foi de 36,8 litros ao dia. Adilson Aguiar também se baseia em outro experimento, esse conduzido com animais Nelore, descartes de um rebanho puro de origem, com idade inicial média de 12 meses e idade ao abate médio de 27 meses. Eles tiveram acesso a um sombreamento provido por sombrite, com provisão de sombra de 80%, e durante 15 meses ganharam 11% a mais que os animais que não tiveram acesso ao sombreamento. A temperatura sob o sombrite chegou a ser até 7 graus mais baixa do que sem o sombrite. “Na condição de conforto térmico, o animal perde menos água pela respiração e pelo suor, se mantendo mais hidratado e necessitando de menor ingestão de água. Nessa condição, os animais podem reduzir a ingestão de água em até 7 litros por dia”, indica Adilson. Outro ponto do experimento foi o abate com avaliação de carcaça. Os animais Nelore tiveram a gordura subcutânea 84% mais espessa, ou seja, a exposição ao sombreamento resultou em maior ganho médio diário e melhor cobertura de gordura na carcaça. Fonte: adaptado de https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0048969723053585?dgcid=author |
Perguntamos para Adilson Aguiar se é necessário um investimento alto na instalação de um sistema para prover água em bebedouros, e a resposta é sim, o investimento é relativamente alto (captação, bombeamento, canalização, bebedouros). Entretanto, complementa ele, se construído com materiais de qualidade, a vida útil será longa, passando de 50 anos, e com baixo custo de manutenção.
“Os custos fixos deste investimento (depreciação + juros) serão baixos. Na verdade, são os menores custos da fazenda. Já fiz cálculos em fazendas que o custo fixo para prover água em bebedouro, por cabeça, era equivalente ao custo das duas vacinas para a prevenção contra a febre aftosa. E olha que um dos menores custos de uma planilha em uma fazenda de pecuária é com vacinas. Também já vi um caso em que o custo fixo para prover água no bebedouro equivalia a menos de 3% do custo total anual da atividade de pecuária”, finaliza o zootecnista.
A água é fundamental para todos os seres vivos. Para os mamíferos, entre os quais estão os humanos e os bovinos, a água compõe a maioria da composição corporal desde a fase fetal até a fase adulta. Isso significa que ela tem importância direta e indireta em praticamente todo o metabolismo dos animais que estão no pasto: seu consumo, mastigação, deglutição e digestão dos alimentos. No caso dos ruminantes, como os bovinos, interfere na ruminação. Participa ainda nos processos de transporte e absorção de nutrientes, na composição da maioria dos tecidos corporais, do plasma e do sangue, na formação e excreção das fezes e urina, e, também, na gestação. Então, se a água fornecida aos animais é de baixa qualidade, todos esses processos serão afetados, trazendo distúrbios metabólicos, infecções e intoxicações. É prejudicial à saúde e à produtividade, afinal se o pasto é a fonte de alimentação de menor custo para o rebanho, implementar práticas simples de manejo podem beneficiar diretamente os resultados financeiros dos pecuaristas. |