Blog •  19/12/2023

Técnica de inseminação artificial transforma o mercado de cria e o ciclo reprodutivo da pecuária

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Conversamos com executivo da Asbia e ele explica como a tecnologia vira aliada dos produtores ao proporcionar melhoramento genético dos ciclos reprodutivos

De salto em salto. Essa é a realidade do mercado de cria desde 2020, e o motivo disso tem nome: inseminação artificial (IA). A produção para o gado de corte vem crescendo, segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) e do  Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). De 2017 para 2021, houve um salto de 110% no Brasil.

Indo um ano para a frente no comparativo, de 2018 para 2022, ainda teve um salto positivo de 67%, diferença equivalente a 9 milhões e 300 mil doses de sêmen. Falando em percentual de matrizes inseminadas, a média entre corte e leite foi de 10% das matrizes no ano de 2017, depois foi para 23% em 2021 e fechou 2022 com quase 22%. 

A Asbia destaca a ampliação do acesso à inseminação artificial no Brasil. A quantidade de municípios – 4.464 atualmente – que utilizam inseminação artificial cresce exponencialmente, assim como o volume das matrizes inseminadas. O fechamento de 2022 foi com mais de 80% dos municípios brasileiros utilizando IA. 

Não que a biotécnica seja nova, inclusive dentre as técnicas existentes aplicadas à reprodução animal, a IA é a mais antiga, mas ela é também a mais eficiente, segundo esse artigo assinado por diversas fontes de zootecnia. Além de uma origem curiosa, no mesmo texto há uma explicação de que, a partir do momento que passaram a congelar o sêmen, a inseminação tornou-se mais rápida e mais controlada, viabilizando o uso de sêmen de um certo animal em épocas futuras. Tal possibilidade revelou uma possível antecipação do ciclo reprodutivo, um dos motivos do seu sucesso na pecuária de corte.

Ciclos reprodutivos da pecuária de corte

Para falar dessa técnica, é importante entender o ciclo reprodutivo. “É sabido que a pecuária de corte tem ciclos. E o penúltimo começou, segundo o Cepea, no meio de 2015, e o preço do bezerro veio baixando até o meio do ano de 2019. Então teve o boom do preço do bezerro, com seu ápice no meio do ano de 2021, completando um ciclo de seis anos. Deve-se lembrar que, quando há queda de preço do bezerro, surge um aumento do abate de fêmeas. Com maior abate delas, há maior demanda de bezerros, ou gera a falta deles no mercado. Essa foi a história do último ciclo e, do meio do ano de 2021 para o meio deste ano (2023), houve uma queda do preço do bezerro de novo. Ou seja, estamos na ‘barriga baixa’ do ciclo. Acreditamos que em 2024 e 2025 esse ciclo tenha crescimento novamente”, explica Cristiano Botelho, executivo da Asbia.

Sendo assim, um panorama dos últimos três ciclos feito pelo Cepea e compartilhado pela Asbia revela que todos levaram um total, em média, de seis a sete anos – entre os momentos de alta e de baixa do preço do bezerro. Essa leitura é do grande cenário, olhando para os ciclos como um todo. “Comparando os três ciclos anteriores com os dados do atual – desde 2021 a 2023 – observamos uma menor queda nos preços. Há praticamente um empate na venda no primeiro trimestre de 2021 e 2023, no gado de corte, e o que acabamos de compilar deste ano revela que, apesar de estarmos no momento de queda, o mercado começa a dar sinais de recuperação. Vamos passar pela baixa para depois voltar, aos poucos, a ter novo aumento, e a vantagem é de que esse ciclo atual está mostrando uma tendência de encurtar. Outro destaque é que, a cada ciclo pecuário passado, em um primeiro momento a queda girou em torno de 30 a 40%. Mas nos momentos em que os preços subiram, eles foram para 70 a 80%, fazendo o preço do bezerro mudar de patamar”, analisa.

Por que o tempo tem tudo a ver com o fator genético?

Porque o ciclo reprodutivo exige um planejamento pecuário futuro dos criadores, o que  determinará a qualidade e continuidade dos animais e da produção. O executivo da Asbia exemplifica: “A decisão da estação de monta desse ano vai parir um bezerro no final do ano que vem. O desmame deste bezerro será no meio de 2025 e ele será um boi gordo em 2026 (se considerarmos a tecnologia e um boi gordo de dois anos, mas pode ser até um pouco mais que isso). Ou seja, levará tempo para dar resultado, só daqui três ou quatro anos. A inseminação artificial é o recurso e o insumo mais barato dentro do custo de fazer um projeto pecuário (menos de 2% do valor do custo de produção), mas quem não investir hoje em qualidade e comprar sêmen adequado, com alto potencial genético, não terá um bom boi gordo em 2026.” 

O recado é que a transformação do rebanho deve ser constante e o pecuarista que não investir vai ficar para trás. Além de pensar no crescimento do bezerro para boi gordo, há o cuidado com as fêmeas e a reposição das matrizes. “A partir do momento que o criador precisa repor e não há qualidade genética, em vez de melhoramento, há uma piora genética do seu rebanho. Isso já está em curso, não é uma coisa que começa de repente. Já teria que estar em curso para quem está pensando lá na frente”, orienta Cristiano Botelho.

E tem sim, segundo ele, cada vez mais pecuaristas com consciência disso. A Asbia observou que, em um momento de baixa de bezerro como agora, o pecuarista precisou, no começo do ano, usar sêmen que ele tinha, eventualmente, no botijão. Quando o cenário está positivo e o produtor se planeja, as compras devem ser feitas no primeiro semestre para aproveitar as condições. Entretanto, nesse momento de incertezas e dificuldades de mercado, o pecuarista pode decidir esperar o cenário melhorar para ir às compras no segundo semestre. A grande maioria só utilizará o sêmen na estação de monta, no momento da inseminação (entre outubro e fevereiro). Tanto é assim que os botijões acima de 20 litros, de grande capacidade de armazenamento, aumentaram suas vendas em 124%, do primeiro semestre de 2022 para o mesmo período de 2023, mesmo com a queda do mercado. Ou seja, o pecuarista está se planejando para ter o sêmen armazenado por mais tempo, justamente se preparando para estruturar seu próximo ciclo pecuário.

Período ideal para a inseminação artificial de bovinos

Costuma ser em período mais úmido, de chuvas, pois no Brasil se explora a pastagem. Na hora em que acaba o período de seca e começam as chuvas, as fêmeas atingem seu estado nutricional ideal e ficam aptas para a reprodução. Normalmente é no período de outubro até fevereiro que se adequa a estação de monta, de acordo com as chuvas. Cristiano Botelho comenta que “as fazendas vão tentando reduzir essa estação para 90 dias, ou até um pouco menos, para concentrar os nascimentos, todos os manejos e a idade média de vendas. O encurtamento do ciclo revela que, quanto melhor a qualidade genética, mais cedo se mata o boi, mais cedo a fêmea fica prenhe e gera crias. Esse benefício de conseguir encurtar o período significa pensar economicamente, como uma empresa rural, e é o que a gente estimula: que o pecuarista tenha essa consciência”.

Melhoramento genético aplicado à pecuária de corte

Outro ponto importante destacado pelo representante da Asbia é o mercado de exportações de carne. Nos últimos cinco anos, o Brasil tem um grande cliente que é a China, tanto que mais de 50% das exportações brasileiras vão para lá. E esse mercado exige um boi pesado e novo, de 20 arrobas e até 30 meses. Tal exigência começou a fazer parte da produção quando a China abocanhou boa parte do mercado de exportação brasileiro, o que levou o pecuarista a investir cada vez mais em melhoramento genético, pois sem ele não consegue atingir esses padrões. Então a IA também é uma forma de atender um mercado crescente e, como resultado direto, está transformando constantemente o rebanho nacional e o agronegócio. 

Por fim, o executivo reitera a possibilidade da diminuição dos ciclos futuros. “A IA é um instrumento econômico que coloca a tecnologia a favor de um ganho de tempo. E aí você ganha tempo e o que acontece com a tua propriedade? Você diminui o custo de produção e aumenta a produtividade. De que forma? Sustentável. Você tem a mesma quantidade de animais, no mesmo espaço em hectares de pastagem, produzindo mais e mais rápido. Isso é a produção sustentável que o Brasil tem. A tecnologia está sendo desmistificada entre os pecuaristas, além da democratização ao acesso de informações e, principalmente, o fato de a genética de qualidade ser a grande precursora e ferramenta para o crescimento do melhoramento genético. O principal desafio agora não é tecnológico e sim de ter a noção do ciclo e do planejamento futuro para conseguir entrar no ritmo adequado. Resumindo: não dá para ‘tirar o pé’ agora porque, se deixar de investir em genética, vai perder a onda, nadar e morrer na praia lá em 2025”, conclui.

Assim como investir no melhoramento genético é uma estratégia importante para aumentar os lucros e a produtividade na pecuária, garantir a qualidade da pastagem também é fundamental para a saúde dos animais e para os resultados do rebanho. Por isso, o manejo adequado do pasto deve ser contemplado no planejamento do pecuarista, especialmente o investimento na prevenção e no controle de plantas daninhas. Uma pastagem limpa assegura alimento de melhor qualidade e sem riscos aos animais. A Corteva Agriscience tem uma linha completa para pastagem, com herbicidas e outros produtos para ajudar você a vencer os desafios das plantas daninhas e ter um pasto limpo.