Blog •  14/10/2022

Apresentando o sistema de integração lavoura-pecuária

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Estima-se que aproximadamente 83% do território de integração no Brasil seja destinado à integração lavoura-pecuária.

Os desafios da pecuária remetem a dois mundos: resultados técnicos e econômicos. Saber conduzir a atividade agropecuária de maneira a obter sempre esses dois sucessos é o que tem atraído os produtores para a utilização de tecnologias de intensificação sustentável.

Dentre elas, a integração de sistemas tem se tornado uma prática cada vez mais comum.

Os sistemas integrados de produção agropecuária podem gerar de 2 a 3 vezes mais rentabilidade que sistemas convencionais, entregando resultados entre R$ 2.500,00 e R$ 7.000,00 por hectare líquido com a adoção da integração, e é exatamente sobre esse sistema que o artigo aborda.

Sistemas Integração Lavoura-Pecuária

Por definição, a integração lavoura-pecuária (ILP) ou agropastoril é um sistema de produção que integra o componente agrícola e pecuário em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área e em um mesmo ano agrícola ou por múltiplos anos.

O exemplo mais comum é o plantio da soja na safra de verão, seguido pela semeadura do milho na safra de inverno (segunda safra). Nesse caso, o capim é normalmente semeado junto com o milho para ser utilizado após a colheita do cereal, possibilitando uma pastagem em pleno período de entressafra (junho, julho e agosto), antes da semeadura da safra de verão no ciclo seguinte.

Além desse sistema, também há outros três: a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-floresta (ILF) e o sistema pecuária-floresta (IPF). Dentre esses quatro sistemas, a ILP é a mais adotada no Brasil, com cerca de 83% de toda a área destinada à integração no país, segundo pesquisa encomendada pela Rede de Fomento ILPF.

Principais resultados provenientes da adoção de integração

Os produtores que utilizam sistemas integrados estão em busca de:

  1. aumento de produtividade, definida pela quantidade de produtos obtidos por unidade de insumos/recursos inseridos nos sistemas;
  2. estabilidade, que é a constância da produtividade frente às pequenas mudanças provenientes de flutuações do clima e do mercado;
  3. sustentabilidade, que é a habilidade de um sistema em manter a produtividade frente a forças da natureza; e por fim,
  4. uniformidade, que representa a regularidade da distribuição da produtividade ao longo do tempo.

Essa forma de produzir é altamente dinâmica e causa muitas variações nas respostas, tanto das culturas anuais (soja, milho, sorgo, arroz, etc.) quanto nas forrageiras, que podem resultar em diferentes produtividades do componente animal.

Portanto, as tomadas de decisões devem ser alicerçadas em conhecimento técnico, principalmente naqueles que garantam o aumento da produção.

A utilização de lavouras para a produção de grãos em sistemas de integração, especialmente em áreas de pastagens degradadas, é bem-vinda e, talvez, seja a maior vantagem em relação às áreas de pecuária. Além de recuperar a produtividade dos pastos, pode contribuir com a utilização de grãos na dieta dos animais e, consequentemente, aumentar o potencial de produzir carne no sistema. No entanto, é preciso lembrar que não adianta recuperar uma área de pasto com lavoura e não manter a fertilidade do solo durante os anos de utilização com a pecuária.

É preciso manter as pastagens adubadas para garantir a manutenção da produção de forragem ano após ano, bem como permitir que a lavoura, após a utilização com pecuária, seja caracterizada pela alta produtividade de grãos.

Dessa forma, a intensificação ocorre no médio/longo prazo, por meio da manutenção da adubação, garantindo altas produtividades na lavoura e na pecuária, construindo fertilidade de solo, tomando decisões com foco no sistema como um todo.

Em relação às áreas de pastagens tradicionais, onde os nutrientes nem sempre foram adequadamente repostos, os custos com preparo do solo, reposição de nutrientes, sementes, entre outros, utilizados no processo inicial de recuperação e melhoria na fertilidade do solo, são amortizados pela produção de grãos no sistema de integração.

Além disso, as pastagens contribuem para melhorar características químicas e físicas do solo, devido ao volume e à profundidade das raízes das gramíneas de clima tropical. Isso resulta em uma série de benefícios para as culturas agrícolas (soja, milho, etc.), como o incremento nos níveis de matéria orgânica, redução no escoamento superficial e melhoria na infiltração de água.

No entanto, para que esses benefícios aconteçam, é necessário manejar adequadamente as pastagens.

Sob a perspectiva da pecuária, é preciso considerar no planejamento do sistema de produção a busca pela maior produtividade do pasto após a lavoura, por meio do planejamento da adubação de manutenção e da suplementação dos animais.

Nesse contexto, o bom manejo do sistema será ferramenta imprescindível, que resulta de três principais eficiências: crescimento do capim, utilização da forragem produzida e conversão em produto animal.

Assim, com o aumento da produção de forragem, alguns ajustes em taxa de lotação animal (quantidade de animais por área) serão de suma importância para colher a forragem produzida de maneira eficaz.

É preciso entender que cada sistema de produção é único e está em constante evolução. Não é porque o vizinho faz e funciona que eu vou fazer e o resultado será o mesmo. É necessário entender as características da propriedade, ter uma leitura clara do mercado, buscar a adequação técnica, financeira e regional do negócio e entender o potencial da propriedade e do proprietário, bem como o contexto em que está inserida.

Área ocupada pela ILP no Brasil

De acordo com a mesma pesquisa da Rede de Formento, em 2015/2016, o Brasil contava com 11,50 milhões de hectares com sistemas integrados de produção agropecuária.

A tendência, segundo a própria Rede, é de um crescimento de 10% a 15% ao ano na área com algum tipo de integração, ou seja, atualmente estaríamos falando de algo em torno de 15 milhões de hectares no país.

Os destaques são o Mato Grosso do Sul, com aproximadamente 20% dessa área, seguido de Mato Grosso, com 15%, e o Rio Grande do Sul, com aproximadamente 13% desse total.

Autores:

Rafael Ribeiro de Lima Filho – zootecnista, msc.
Felippe Reis – zootecnista
Bruno Carneiro E Pedreira -a grônomo (2003), mestre e doutor pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – USP, possui pós-doutorado em Ciência Animal e Pastagens pela mesma universidade. Atualmente, é pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril e professor do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia na Universidade Federal de Mato Grosso, em Sinop-MT.
William Marchió – médico-veterinário e atual diretor executivo na Rede de Fomento à Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF – Embrapa).