Blog •  02/03/2023

Expectativas para o mercado do boi gordo em meio ao caso de “vaca louca”

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Após a ocorrência de casos atípicos de mal da “vaca louca” em 2019 e 2021, os preços da arroba despencaram, mas se recuperaram.

Os dois primeiros meses do ano trouxeram notícias impactantes para o mercado brasileiro exportador de carne bovina. Logo em janeiro, foi constatado volume recorde embarcado para o mês em todo o histórico. Em fevereiro, novas plantas foram habilitadas a exportar para a Indonésia e houve a reabilitação de plantas suspensas à exportação para a China. Mas esse não foi o destaque do mês.

O mercado foi surpreendido, durante o carnaval, com uma confirmação de caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida popularmente como “mal da vaca louca”. A confirmação do caso ocorreu em 22/2 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Na quinta-feira (23/2), em função de acordo bilateral entre o mercado brasileiro e o chinês, foi informado embargo à exportação de carne bovina à China, até que a OMSA (Organização Mundial da Saúde Animal) reitere o status brasileiro da doença. Desde então, o mercado vive dias de estagnação.

O mercado, que trabalhava com boas perspectivas, cessou. Até o momento (8/3), não há mais referência para o “boi China” desde a confirmação do caso e, para o boi comum, aquele destinado ao mercado interno, houve queda de R$ 10,00/@ nas ofertas (confira na figura 1). Vale ressaltar que os vendedores estão retraídos e pouquíssimos negócios estão ocorrendo nestes últimos dias.

Figura 1
Cotação do boi gordo destinado aos mercados interno e externo (“boi China”), em R$/@, preços brutos e a prazo.

Fonte: Scot Consultoria

Casos como esse sempre geram um momento de muita tensão ao mercado pecuário brasileiro, que até hoje não teve caso da doença em sua forma típica, aquela contraída por meio do consumo, pelos ruminantes, de carne contaminada.

O bovino já tinha 9 anos de idade e não era alimentado com nenhum tipo de ração. Foi sacrificado dentro da fazenda, localizada no Pará, e os restos mortais foram incinerados, como manda o protocolo sanitário.

A forma atípica da doença ocorre em animais mais velhos, que são acometidos por uma degeneração em seu sistema nervoso. A ocorrência da doença foi confirmada como atípica (2/3), ou seja, “mal da vaca louca” falso.

Apesar do autoembargo ainda permanecer, notícias boas atingiram o mercado. Em 6/3, o México publicou os requisitos zoosanitários necessários para que o Brasil possa exportar carne bovina ao país. Em 7/3, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento soltou nota informando que 34 plantas frigoríficas, presentes em 15 estados, estão habilitadas para iniciar a exportação para o México. A conclusão da negociação levou cerca de 12 anos.

Santa Catarina é o único estado que pode enviar carne com osso ao país, devido ao seu status sanitário na OMSA, classificado como livre de febre aftosa sem vacinação.

Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rondônia, Sergipe e Tocantins podem exportar carne desossada, uma vez que, perante a OMSA, sua classificação é de livre de febre aftosa com vacinação.

Qual o rumo que a arroba deverá tomar?

Quanto às expectativas, nos dois casos mais recentes, em 2019 e 2021, foram notados comportamentos de preços similares e períodos de duração de embargo distintos (confira na figura 2).

Após a determinação do embargo, os preços pagos pela arroba do boi gordo caíram por dias consecutivos.

Em 2019, a duração do embargo foi de 9 dias úteis. Assim que a exportação foi retomada, os preços voltaram a subir e, no 15.o dia útil após a data de embargo, já retomaram ao mesmo patamar pré-embargo.

Já em 2021, o embargo teve maior duração de tempo, 68 dias úteis. Entretanto, a recuperação do preço da arroba foi anterior ao fim da paralisação da exportação de carne bovina.

Devido ao menor volume de bovinos para abate ofertados aos frigoríficos, em função do momento vivido pelo ciclo pecuário de preços, os compradores de gado foram, dia a dia, ofertando mais pela arroba.

Figura 2
Comportamento de preços do boi gordo em episódios de ocorrência de EEB (referência São Paulo, base 100=data do embargo).
 

Fonte: Scot Consultoria

Vale ressaltar que, em ambos os casos, após a volta chinesa, os preços pagos pela arroba em São Paulo atingiram patamares maiores que os anteriores à ocorrência de casos de EEB.

Até o momento, a tendência captada pelo mercado é de queda na referência, mas, a depender da oferta de bovinos e necessidade da indústria para atender ao mercado interno e da duração do embargo, podemos ver os preços reagindo nas praças pecuárias.